Sou filha de zé ninguém que filha de zé quem é, que aos 18 anos estava fora de casa e grávida!
Acho que esta frase resume bem o principal motivo que me levou a São Tomé.
Aos 26 anos quando delineei os meus objectivos para o millenium, estava sozinha, viva, sóbria emocionalmente e depois de tanta luta, tinha a obrigação de retribuir tamanhas bênçãos em tão grande aventura.
Sobrevivera, era estável, o meu filho era LINDO e nada nesta vida é em vão. Não há coincidências!
Decidi então que na reforma (que era quando eu imaginaria que ia ter uma vida calma), iria fazer um voluntariado internacional!
Só não sabia bem no quê, nem com quem, nem como, nem para onde, basicamente não sabia nada.
Fiz o crisma de adultos em Junho de 2011 e pensei, será que é pela igreja que vou voluntariar?
Em Setembro do mesmo ano entrei em Educação Social na Universidade do Algarve. Eu já era sensitiva e sempre pronta a ajudar, queria aprender como fazê-lo com maior competência, estilo e quem sabe, fazer desta característica tão minha, uma forma de vida?
Achei mesmo que era a licenciatura que me ia levar ao voluntariado internacional. E levou! Só que de forma bem mais divertida do que qualquer plano que eu pudesse conceber.
Fiz a licenciatura, fiz o estágio, fiz ligações para a vida como qualquer pessoa que passa pela vida académica.
O meu filho foi diagnosticado com uma doença rara, segui para o mestrado e mesmo no meio de muito caos, além do meu trabalho e vários part-times, sempre fiz alguns voluntariados diversos por aqui mesmo. Sempre com o meu filho pela mão a acompanhar-me em cada fase da vida (no fundo temos ambos 17 anos).
Percebi que aqui por Faro também era possível doar-me como pessoa e ensinar o meu filho a Ser Mais e Melhor Humano.
Afinal, o plano era voluntariar internacionalmente só na reforma mesmo, por isso, tudo bem.
Em 2020, já minimalista assumidíssima, faço o curso de formação de formadores em que me começo a aperceber do fascínio que há em torno do minimalismo.
Com a explosão da pandemia, ainda mais o minimalismo e a economia da felicidade me faziam sentido! E além de uma vida com propósito e sem futilidades, a verdade é que como sempre fui pobre a vida toda, a redução de rendimentos não me trouxe muito impacto.
Percebi também que as aprendizagens que tive ao longo da minha vida eram úteis a quem me rodeava.
A Sandrinha já estava alojada no meu coração e na minha vida desde os tempos da licenciatura. Muitas vezes lhe perguntava mas afinal o que é essa coisa do Um Dia Vamos Juntos? E a resposta era sempre a mesma: Um dia bebemos café e eu explico-te tudo! Macaca, esse café nunca aconteceu.
Mas aconteceram outros cafés, muitos cafés. Num deles ela diz-me que também já tinha tirado a formação de formadores, e que a formação CANVAS que ela ia iniciar afinal não tinha nada a ver com imagens do facebook.
Era SÓ a maior e melhor formação com que eu já alguma vez me tinha cruzado na vida, na área de gestão de projectos de empreendedorismo social e que ainda havia vagas.
Lá fui eu.
No meio da formação é que começo a ter umas luzes do que é afinal o Um Dia Vamos Juntos, e que ela está a recrutar formadores para a área de educação financeira e gestão familiar num voluntariado internacional em São Tomé e Príncipe!
E eu com a formação de formadores fresquinha que nem uma alface e toda cheia de vontades de viver com significado, no meu propósito e espalhar a palavra!
Aquela formação tinha sido feita para mim! Por favor Sandrinha, permite-me a honra!
E não é que permitiu mesmo?
Em Dezembro os bilhetes estavam comprados.
Em Janeiro tive a honra de fazer o curso completo para o voluntariado internacional também com a Sandrinha e com um grupo de anjos, gigantes de almas e de asas sem tamanho.
E quanto mais eu conhecia o projecto, as linhas de intervenção, a ética e os valores com que foi construído, mais eu me apaixonava e tinha a certeza que tinha feito a melhor escolha para este velho sonho!
Não era com a igreja, nem com nenhuma entidade pública ou privada, nem com nenhuma ONG, nem através da universidade.
Era com o UM DIA VAMOS JUNTOS!
Descascar batatas, brincar com crianças, fazer teatro infantil, contar histórias, animação ou ajudar em projectos sociais, eu já fazia isso aqui.
Não precisava de ir para lá da linha do equador para voluntariar assim. Aquilo que me esperava era maior do que eu. Maior do que eu poderia imaginar. Superior a qualquer vertente humana desta vida!
Eu ia mesmo fazer a diferença, num projecto ainda embrionário, puro e focado mesmo nas pessoas e nas suas necessidades e potenciais.
Até ia com a CEO do projecto e uma psicóloga especializada e qualificada. Tal não era a minha Sorte?
E toda a minha vivência até à data teria um significado maior através do projecto da Sandrinha.
Somos Veículos!
Entidades patronais avisadas, férias alinhadas, filho a postos, dogsitter orientada. Tudo pronto!
Já nem vamos falar de fronteiras fechadas, voos cancelados, crises, covids e essas coisas todas que toda a gente sabe (ou imagina).
Três semanas antes da partida, além de alterações com as férias, o maior compromisso profissional de sempre, nunca antes visto, a oportunidade, o sonho profissional de uma vida!
Já tive que escolher entre comer ou pagar contas, comer eu ou comer o meu filho. Escolher entre um sonho pessoal e um profissional? Nada mal miúda… Quem te viu e quem te vê!
Qual seria a atitude mais correcta?
Foram muitos turnos da noite, muitas insónias e voltas à cabeça. Mas a solução foi encontrada.
Só precisava do milagre de tudo correr bem, o voo não ser novamente alterado, não ficar infectada com covid, nem com malária, nem ter diarreia do viajante, nem coisa nenhuma, não haver nenhum percalço.
Sem margem para imprevistos!
O universo estava a testar-me, a pôr-me à prova…. Mas eu simplesmente não conseguia cancelar, não dava para prescindir deste sonho, eu não tinha essa capacidade.
Em vez de 17 dias fui só 10! Recebi o último ok profissional a minutos de entrar no avião (até chorei!).
E sim, correu tudo bem. Perfeição milimétrica! Organização intocável!
Vivi vários milagres em um Milagre só.
Um manual para a vida em 10 dias. Uma lição de vida a cada amplitude de cada olhar, a toda a hora a todo o momento.
E não prejudicou o tal do projecto profissional.
Não foi só a experiência de uma vida, foi A EXPERIÊNCIA de VÁRIAS vidas (várias vidas minhas, as vidas que foram tocadas lá, as vidas que acompanharam cá).
E o melhor de tudo?
Diz que cumpri mesmo o meu objectivo, diz que as mulheres batalhadoras estão mesmo a cumprir o propósito delas, diz que o meu filho nunca teve tanto orgulho na sua mãe, diz que todos os obstáculos, lutas e dificuldades tinham um só motivo:
Levar-me a São Tomé com o Um Dia Vamos Juntos!
Obrigado Universo!
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