É impossível ficarmos indiferentes à Roça da Boa Entrada! Tudo lá tem um encanto, parece que tudo foi colocado num preciso lugar propositadamente para embelezar aquele cantinho...
Quando chegamos à subida que nos leva em direção à Casa Grande, começam repetidamente os bons dias, os sorrisos abertos, as corridas atrás do carro e em direção ao Centro de Interação Jovem. Todos os dias foram assim, todos os dias houve demonstrações de carinho à minha chegada, senti-me sempre acolhida, família e respeitada.
Na linha da frente, esteve sempre a doce e forte Carla, a ela o meu enorme sentimento de gratidão. Mulher firme nos valores, forte na personalidade, mas com um coração gentil onde o amor pelo o outro é uma prática recorrente na sua vida.
A Carla encontra-se à frente da instituição que me acolheu, todos os dias são de luta, todos os dias existem problemas, todos os dias debatem-se com a falta de material para poderem desenvolver atividades educativas com as crianças e jovens, todos os dias procura respostas para os problemas, mas, mesmo com todas dificuldades, nunca a vi a baixar os braços ou com vontade de desistir, levava consigo todos os dias o mesmo olhar carregado de preocupação e na mesma medida carregado de esperança que um dia tudo ficará bem. O mundo precisa de mais Carlas!
Nesta comunidade vivem em comunhão de paz e amizade um conjunto de pessoas, de diferentes origens e nacionalidades. Muitas vieram de outros países do continente africano, em especial Cabo Verde. Em termos socioeconómicos a grande maioria das pessoas que lá habitam, vivem sem qualquer tipo de rendimento, ou com rendimentos muito baixos, o trabalho é precário na sua maioria, e o absentismo escolar é uma dura realidade, o que confere a esta comunidade uma complexidade extrema e uma vulnerabilidade social preocupante.
Os elevados índices de pobreza, são dos maiores desafios que enfrentam, sendo claramente um território de grande instabilidade social. Ali vivem cerca de 1800 adultos e 300 crianças, muitos em condições precárias, mas também num espírito de entreajuda fenomenal, são próximos e preocupados uns com os outros, uma verdadeira lição para muitos de nós.
As más condições em que se encontram, acabam por ser a face mais visível da pobreza, onde se associa a diferentes dimensões de carências socioeconómica: falta de abastecimento de água em algumas casas, falta de saneamento em algumas casas, fracas condições de acesso à educação e saúde de forma quase generalizada. Os níveis de analfabetismo e iliteracia são bastante elevados. O analfabetismo está mais ligado à população sénior, enquanto que os jovens apresentam elevados níveis de iliteracia.
Os acessos à Roça da Boa Entrada, são razoáveis, contudo devido aos custos as deslocações das pessoas são quase inexistentes. É fácil constatar que esta comunidade enfrenta vários desafios ao seu desenvolvimento, contudo convém salientar que a mesma também possui alguns recursos próprios, produção de cacau, floricultura, que podem num futuro ser ferramentas essenciais para um desenvolvimento e crescimento económico, social e educacional.
Assim, a Roça da Boa Entrada, é uma comunidade com fortes carências sociais, dotada de um complexo esquema social, é uma comunidade semifechada sobre si própria, onde existem várias habitações familiares muitas em condições de precariedade extrema e algumas estruturas de apoio com uma escola, um centro de interação jovem, um jardim de infância e pequenos negócios locais , que permitem a dinamização das interações sociais entre os seus habitantes.
É neste ambiente também, que vimos as crianças a serem simplesmente crianças e é tão lindo! Correm descalços, gritam, jogam à bola, rasgam sorrisos mágicos a todos os que os visitam, trepam árvores como agilidade que nos impressiona, são livres, brincam na rua, longe muitas vezes dos olhos dos pais, mas sempre com algum adulto vigilante e zelar pelo bem estar dos mais pequenos.
É de facto uma comunidade apaixonante, com pessoas com um espírito leve-leve e muito acolhedoras e nem as dificuldades sentidas nos seus quotidianos, nem a dureza com que a vida os "brinda", nada lhes retira um sorriso sincero e uma vontade inabalável de ajudar os seus e os outros.
Continuo a dizer, sorte a minha de ter cruzado com pessoas maravilhosas!
Com carinho,
Sandra
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